terça-feira, 10 de julho de 2007

A vida é reboliço

Cioran, Cioran, vc jogou meu último orgulho por terra!
O que resta ao homem, quando descobre que não é um ser bom, e a bondade que pratica nada mais é senão uma necessidade própria de ser bom? No meu caso, como ser humano, restava ainda o orgulho de haver vencido o "espírito rebelde", maledicente, formador de juízo, e reclamante.
Vivi a adolescência num fervor louvável, esperando que com minhas ações mudaria ao mundo, e conseqüentemente, levantando bandeiras contra todas as injustiças, inclusive me magoando e exigindo satisfações quando as ofensas eram dirigidas a meu poderoso ego.
O tempo vai, figurativamente primeiro, nos dobrando o dorso. Paramos de dizer tudo que queríamos dizer, não explodimos nossas emoções com a mesma facilidade e furor dos primeiros anos da juventude.
As pessoas costumam sempre atribuir a uma grande mudança de vida, ou seja a alguma conversão nas idéias, ou sendo mais específica ainda, à novas práticas, geralmente religiosas que adotaram em algum pedaço do caminho.
Lembro que minha mãe, contava sobre sua irmã, que "era uma pessoa por demais arrogante, briguenta, e quando de fato se exaltava, saía até no tapa com os vizinhos. Eu me surpreendia e tentava imaginar aquela senhora tão acomodada no seu canto, brigando de puxar cabelos,gritos, e impondo suas razões...
Minha mãe reforçava: Quem a conheceu quando jovem, vê claramente, nela outra pessoa. Como mudou quando ficou crente!
Minha tia, convencida deste maravilhoso dom divino, replicava em auxílio: -"Deus mesmo" vai mudando a gente, tornando-nos mais pacientes com as pessoas, as coisas da vida.
Quando eu, comecei a me perceber mais calma,mais tolerante, por simplesmente nao achar que valesse a pena uma briga, uma revolta, e que a vida é tão curta para perdermos tempo brigando, senti como se de repente, por meus próprios méritos tivesse aprendido com a vida. Nem precisei da intervenção do céu! Sózinha dominei o monstro que existia orgulhos e eufórico, ávido por reconhecimento, em mim. Grande engano, agora pego Cioran para ler, e ele numa só tacada, me desvenda o mistério, e meu último orgulho se desfaz.
Cioran fala do fervor da mocidade, da juventude que briga por revoluções, que exige, mostrando "alto grau de vida", fervilhando, latente...
Fala de quando esta vida vem diminuindo, esfriando, consentindo... se enchendo de morte... de compreensão...
Não fui eu que me trabalhei interiormente, a vida foi-se indo, se mostrando efêmera demais, como um raio, e nós, deixamos de nos sentir infinitos. Por muita coisa já não vale a pena brigar, exigir... E eu chamava isto de conquista interior!!!
A menos que viver seja se inflamar, e ir extinguindo, signifique "se conhecendo"..., aí ainda poderia estar certa, na minha doce ilusão!( Ideny Ditzel Freitas)

Um comentário:

napalmtop disse...

Participe de noss lista de discussão sobre Cioran:

Planeta_Cioran-subscribe@yahoogrupos.com.br

http://br.groups.yahoo.com/group/Planeta_Cioran/