Como posso não preferir a solidão, se nela encontro-me bem comigo? Tenho pavor das multidões, tal como a Nietzsche, ela me sufoca. Não que eu não ame as pessoas, amo-as todas, infinitamente, mas sem no entanto precisar me envolver na vida delas, na respiração delas, nas "certezas" delas.
Quem não gosta de solidão, não se encontrou ainda. Procura no outro o que lhe falta.Sem poder encontrar, é claro. E sai do encontro, outra vez vazio, porque mais foi esvaziado enquanto buscou absorver do outro, do que completou-se como ingenuamente pretendeu-se.
Eu amo e tenho paciência e complacência com os humildes e pequenos, eles é que não têm paciência comigo e não me deixam em silêncio. Que posso fazer frente aos pequenos senão limitar-me a ouví-los desgastar-me com suas certezas? Não contentes com meu silêncio ao ouví-los, querem minha reação. Afrontam-me com suas verdades. Querem sentir que as aceitei, porque meu silencio é demais para eles. Quem sabe lhes soa como ignorância, como vazio de entendimento? E se lhes não satisfaço com a observação amistosa: "amigo esta é a sua verdade, eu tenho a minha, e todos os indivíduos que conhecemos e os que não conhecemos também têm sua própria". Vão à loucura! A verdade é uma só e está com eles. É isto que pensam que estão tentando me passar e eu não abarco. Tentam dissimular o calor da exaltação ao tentarem outra maneira de falar qual é a verdade. Mas, eu, vazia demais, continuo sem reação emocional, apenas olhando, como se as palavras do espirito santo que fala por eles, não encontrasse ressonância dentro de mim. Sou do mal e não identifico no fervor das palavras "santas", a verdade fluindo e me convertendo.
Sinto as pontadas nas têmporas... a náusea. Por mais que me seja querida a pessoa que me fala, se torna um verme carregando um pedaço de cocô à minha frente, e dizendo: experimenta! Enquanto meu interlocutor me olha ansioso em busca de uma reação que identifique que entendi sua verdade, sou eu que, dissimulo agora minha vontade de vomitar. Por que as pessoas estragam as conversas e os convívios impondo suas verdades como verdade universal? Tento mudar de assunto, fazer piada, rir, para me livrar da opressora investida do "inimigo". Mas toda sua intenção está em se fazer entender, em fazer cair suas palavras em meu coração, tido por duro, inflexível, desumano.
Ah, estas "bondades" e "santidades" que carregam os homens. Puras necessidades travestidas de divinização... o que me chateia é que não percebem, e chamam estas necessidades de DOM DIVINO.
Então, o portador da velha boa nova, se retira, certo de que, não nasci para a Graça, para a salvação. Lamenta ele porque sou uma pessoa boa, inteligente e me quer bem. E eu, respiro aliviada que tenha desistido. Preciso de um ou dois dias para me desintoxicar da sua presença, mas acabo sobrevivendo!( Ideny Ditzel Freitas)
sábado, 14 de julho de 2007
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Um comentário:
Que bom encontrar seu blog! Amei pela semelhança com o meu, e eu "sofro de multidão" - Que bom que você existe.
Henrique.
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