sábado, 14 de julho de 2007

Ecce Homo

Tenho cá minhas dúvidas, de que Nietzsche tenha enlouquecido em plena rua, quando viu um cavalo ser maltratado. Na rua sim, mas o que o enlouqueceu por completo, fora um planfleto que veio-lhe de encontro ao rosto, enquanto fitava o sofrimento do animal.
No panfleto lia-se:"Negue a si mesmo e me segue"!
( compreensível apenas a quem já leu e entendeu Ecce Homo!)

sofro de multidão!

Como posso não preferir a solidão, se nela encontro-me bem comigo? Tenho pavor das multidões, tal como a Nietzsche, ela me sufoca. Não que eu não ame as pessoas, amo-as todas, infinitamente, mas sem no entanto precisar me envolver na vida delas, na respiração delas, nas "certezas" delas.
Quem não gosta de solidão, não se encontrou ainda. Procura no outro o que lhe falta.Sem poder encontrar, é claro. E sai do encontro, outra vez vazio, porque mais foi esvaziado enquanto buscou absorver do outro, do que completou-se como ingenuamente pretendeu-se.
Eu amo e tenho paciência e complacência com os humildes e pequenos, eles é que não têm paciência comigo e não me deixam em silêncio. Que posso fazer frente aos pequenos senão limitar-me a ouví-los desgastar-me com suas certezas? Não contentes com meu silêncio ao ouví-los, querem minha reação. Afrontam-me com suas verdades. Querem sentir que as aceitei, porque meu silencio é demais para eles. Quem sabe lhes soa como ignorância, como vazio de entendimento? E se lhes não satisfaço com a observação amistosa: "amigo esta é a sua verdade, eu tenho a minha, e todos os indivíduos que conhecemos e os que não conhecemos também têm sua própria". Vão à loucura! A verdade é uma só e está com eles. É isto que pensam que estão tentando me passar e eu não abarco. Tentam dissimular o calor da exaltação ao tentarem outra maneira de falar qual é a verdade. Mas, eu, vazia demais, continuo sem reação emocional, apenas olhando, como se as palavras do espirito santo que fala por eles, não encontrasse ressonância dentro de mim. Sou do mal e não identifico no fervor das palavras "santas", a verdade fluindo e me convertendo.
Sinto as pontadas nas têmporas... a náusea. Por mais que me seja querida a pessoa que me fala, se torna um verme carregando um pedaço de cocô à minha frente, e dizendo: experimenta! Enquanto meu interlocutor me olha ansioso em busca de uma reação que identifique que entendi sua verdade, sou eu que, dissimulo agora minha vontade de vomitar. Por que as pessoas estragam as conversas e os convívios impondo suas verdades como verdade universal? Tento mudar de assunto, fazer piada, rir, para me livrar da opressora investida do "inimigo". Mas toda sua intenção está em se fazer entender, em fazer cair suas palavras em meu coração, tido por duro, inflexível, desumano.
Ah, estas "bondades" e "santidades" que carregam os homens. Puras necessidades travestidas de divinização... o que me chateia é que não percebem, e chamam estas necessidades de DOM DIVINO.
Então, o portador da velha boa nova, se retira, certo de que, não nasci para a Graça, para a salvação. Lamenta ele porque sou uma pessoa boa, inteligente e me quer bem. E eu, respiro aliviada que tenha desistido. Preciso de um ou dois dias para me desintoxicar da sua presença, mas acabo sobrevivendo!( Ideny Ditzel Freitas)

terça-feira, 10 de julho de 2007

A vida é reboliço

Cioran, Cioran, vc jogou meu último orgulho por terra!
O que resta ao homem, quando descobre que não é um ser bom, e a bondade que pratica nada mais é senão uma necessidade própria de ser bom? No meu caso, como ser humano, restava ainda o orgulho de haver vencido o "espírito rebelde", maledicente, formador de juízo, e reclamante.
Vivi a adolescência num fervor louvável, esperando que com minhas ações mudaria ao mundo, e conseqüentemente, levantando bandeiras contra todas as injustiças, inclusive me magoando e exigindo satisfações quando as ofensas eram dirigidas a meu poderoso ego.
O tempo vai, figurativamente primeiro, nos dobrando o dorso. Paramos de dizer tudo que queríamos dizer, não explodimos nossas emoções com a mesma facilidade e furor dos primeiros anos da juventude.
As pessoas costumam sempre atribuir a uma grande mudança de vida, ou seja a alguma conversão nas idéias, ou sendo mais específica ainda, à novas práticas, geralmente religiosas que adotaram em algum pedaço do caminho.
Lembro que minha mãe, contava sobre sua irmã, que "era uma pessoa por demais arrogante, briguenta, e quando de fato se exaltava, saía até no tapa com os vizinhos. Eu me surpreendia e tentava imaginar aquela senhora tão acomodada no seu canto, brigando de puxar cabelos,gritos, e impondo suas razões...
Minha mãe reforçava: Quem a conheceu quando jovem, vê claramente, nela outra pessoa. Como mudou quando ficou crente!
Minha tia, convencida deste maravilhoso dom divino, replicava em auxílio: -"Deus mesmo" vai mudando a gente, tornando-nos mais pacientes com as pessoas, as coisas da vida.
Quando eu, comecei a me perceber mais calma,mais tolerante, por simplesmente nao achar que valesse a pena uma briga, uma revolta, e que a vida é tão curta para perdermos tempo brigando, senti como se de repente, por meus próprios méritos tivesse aprendido com a vida. Nem precisei da intervenção do céu! Sózinha dominei o monstro que existia orgulhos e eufórico, ávido por reconhecimento, em mim. Grande engano, agora pego Cioran para ler, e ele numa só tacada, me desvenda o mistério, e meu último orgulho se desfaz.
Cioran fala do fervor da mocidade, da juventude que briga por revoluções, que exige, mostrando "alto grau de vida", fervilhando, latente...
Fala de quando esta vida vem diminuindo, esfriando, consentindo... se enchendo de morte... de compreensão...
Não fui eu que me trabalhei interiormente, a vida foi-se indo, se mostrando efêmera demais, como um raio, e nós, deixamos de nos sentir infinitos. Por muita coisa já não vale a pena brigar, exigir... E eu chamava isto de conquista interior!!!
A menos que viver seja se inflamar, e ir extinguindo, signifique "se conhecendo"..., aí ainda poderia estar certa, na minha doce ilusão!( Ideny Ditzel Freitas)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

o que falta ainda para se dizer?

o que falta ainda para se dizer?

Dizer o quê? Tudo já foi dito, desdito...
Formaram-se sínteses, teses, antíteses...
afirmou-se, reafirmou-se, negou-se o afirmado
Nada há para ser dito, que já não tenha sido assunto de muitos.
Queria ouvir algo novo, falar de algo novo, mas morro nesta mesmice, neste eterno retorno de assuntos chapados.
O mais fascinante dos atos e o que mais provoca reações diversas, é a destruição de ídolos. Fiquemos neste, para ver a ojeriza dando vida às vivências mortas. Única manifestação de vida em muitos indivíduos é expressada na forma como defendem sua fé. De resto, são pessoas mortas!

Descobri o que ME OJERIZA

Descobri o que não gosto. "Achismos", verdades prontas, opiniões formadas e taxativas, juízos contra terceiros, principalmente quando estes não estão presentes. As frases que me dão agulhadas nas veias: "Minha mãe diz assim:- (e começa a ladainha), ou: "Não, não, não, NÃO É assim!( e se põe a alardear a SUA verdade ABSOLUTA", ou: "na bíblia diz assim...", ou ainda "EU SOU assim..."
Estas frases estragam qualquer conversa. Sinto um aperto nas têmporas com as verdades prontas. Uma espécie de vertigem, desejo de sumir dali para não precisar ouví-las. Aversão pela pessoa que a está proferindo, pela pequenez de seu universo.
Como é bom conversar com pessoas que SABEM que não sabemos nada. Que trocamos idéias conforme nossas experiências de vida, e que ninguém carrega a verdade consigo, quer dentro de uma bíblia, quer num livro oriental, quer nas palavras de seus antepassados...
Por isto, me desculpem, se ao seu lado, eu sou tão calada... é perigoso tirar a trava da boca de algumas pessoas, e eu evito aborrecer-me.
Gosto sim, de conversar com sábios, e sábio é aquele que sabe que nada sabe, ele ao falar, evidencia que reconhece a ignorância de todos os seres humanos, inclusive a sua própria. E ao te ouvir, ele reconhece que, vc está falando sobre suas experiências e o modo como as absorveu, e não impondo sua idéia. O tolo, fanático, e os formadores de opiniões, pensam que, cada idéia que vc expõe, está como ele, impondo-as. Ele não sabe trocar idéias, comentar sobre as coisas da vida, sem falar da SUA verdade. Nestes casos, prefiro a solidão, porque no silencio se não reina a verdade, não me obrigam às mentiras e ilusões. Basta a mim as minhas próprias, que as sei mutáveis, falíveis, e incompletas, por isto mesmo, não me apegando a elas, mas usando-as como um degrau para poder continuar questionando,pesquisando, descobrindo, mesmo que descobrindo que não podemos saber nada.( Ideny)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

hummmm

cospe, cospe, hum...
hum... hum... cospe, cospe
amanhã eu escrevo