quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Montaigne



VALEU A LEMBRANÇA DO AMIGO ERNESTO, EM SEU COMENTÁRIO POSTADO, VALE E MUITO lembrar de comentar MONTAIGNE (Ideny):
Michel de Montaigne (1533- 1592), o grande pensador e escritor humanista da renascença francesa, o celebrado autor dos Ensaios (1580-1588), era pessimista e cético em relação a sociedade da sua época. Achava-a viciosa e falsa. Por isso, empenhou-se em encontrar um espaço próprio, um recanto onde pudesse estabelecer-se com toda a tranqüilidade, dedicando-se dali, no seu refúgio – o Mirante do Sábio - a observar o jardim e a paisagem que o circundava. Na torre do seus castelo em Bordeaux, escreveu então, em prosa soberba, as mais belas páginas da literatura francesas em todos os tempos.

O mundo é um teatro

Michel de Montaigne (1533-1592)
"...há uma peste no homem, é a pretensão de saber alguma coisa"
Montaigne – Ensaios, 1580


Numa sociedade embebida em falsidades, obcecada por representações e aparências - na qual as pessoas tratam de esconder o que verdadeiramente são, atuando como se fossem atores e atrizes - qual o lugar de um homem sábio? Como lidar no Mundus universus exercet histrioniam? (O mundo é o universo do histrião). Meditando sobre isso, sobre o mundo parecer-se a um teatro, o filósofo e humanista Michel de Montaigne, morto em 1592, disse que “ há em nós mais vaidade do que infelicidade, mais tolice que malícia, mais vazio do que maldade, mais vileza do que miséria.” Vivendo em meio a uma comunidade tomada por viciados, ele deve evitar o contagio com o mal, pois tal conúbio o obrigava a duas alternativa: ou adere aos viciados ou os odeia. Ambas ruins e negativas. Onde, pois, encontrar um sitio que o afastasse do “malefício do parecer”? Visto que nem o mais prudente dos pensadores escapava da sedução das ilusões - pois tudo que o circundava era feito de “trapaça, mentira e traição”, onde, raios, ele podia achar um refúgio?

Os sábios gregos antigos, sabedores disso, abrigavam-se em asilos muito próprios, originais: Pitágoras entre os esotéricos, Platão na Academia, Aristóteles no Liceu, Zenão no Stoa, e o cínico Diógenes num barrica. Mas Montaigne não pretendia fundar nenhum escola, nem queria discípulos ou seguidores ao seu redor. Desejou somente retirar-se das coisas do mundo para, à distância, poder entendê-lo: encontrar um mirante para o sábio. No caso dele, a biblioteca que possuía na torre do castelo da sua família em Bordeaux, onde nascera nas propriedades da família, em 1533.

Somente ali, gozando da solidão em meio aos papéis à tinta e aos livros, sentia-se livre, liberto de qualquer convenção.
Seguia assim o preceito dos estóicos e dos epicuristas que indicava a necessidade de estabelecer-se “ num lugar” que repelisse “a imaginação, a presunção e a vaidade”, para bem longe de si. Privar do seu próprio jardim, enfim. Como dissera Plínio, no passado: “No retiro absoluto que criaste, é onde tendes a possibilidade de viver como entendes...te entregues ao estudo das letras, a fim de chegares a produzir alguma coisa pessoal” (citado nos Ensaios, I, XXXIX) Eis que o verdadeiro sábio seqüestra a si mesmo e, encurralando-se num recanto, afasta-se das “falsas fisionomias” e das “mascaradas” com que antes era constrangido a conviver.

2 comentários:

Unknown disse...

Desde quando lí os "Ensaios" de Montaigne pela primeira vez, quando tinha meus vinte e poucos anos, nutro por esse grande homem uma grande admiração e procuro imitá-lo. Em verdade não tenho um castelo, mas, de minha biblioteca, no andar de cima de minha casa que fica no alto de uma montanha, descortino uma vista da cidade com seu casario que me permite refletir sobre toda aquela gente com suas ocupações e preocupações cotidianas, ao mesmo tempo que, elevando o olhar, posso contemplar as estrelas e situar-me no centro de tudo isto, meditando sobre o significado do meu existir. À imitação do grande mestre, estou também escrevendo meus "ensaios" dos quais já tenho umas 400 páginas e, em breve, vou dar a lume. A principal lição que tomei de Montaigne foi a de, a respeito do que quer que seja, assimilar tudo o que se conhece, refletir e tirar minhas próprias conclusões, de modo inteiramente livre de todo e qualquer preconceito, ditado pelas tiranias do bom senso e dos bons costumes.

maria olimpia disse...

Este é meu livro de cabeceira. Está todo marcado, escrito com letras miúdas. Ali eu encontro tudo que preciso. É tão atual que fico pensando o quão pouco evoluimos no que diz respeito as nossas deficiências.é o maior ensaísta vivo que conheço.Eu escrevi vivo, não é engano, pois quem escreve como ele escreveu, nunca morre.