domingo, 2 de setembro de 2007

O velho que queria agradar a todos-AUTORIA DESCONHECIDA

Era uma vez um homem já velho e meio surdo que vivia numa chácara com seu netinho de 8 anos, depois que os pais deste tinham morrido. O velho tinha um grande pomar e um burro e ganhava a vida vendendo frutas na feira da cidade. Um dia, no seu aniversário, um amigo lhe deu de presente um aparelho de surdez, o que o deixou muito feliz. No dia seguinte, de manhã bem cedo o velho carregou dois cestos de frutas no burro, colocou o menino montado no animal e lá foram eles para a cidade, como faziam todas as manhãs. O velho ia andando como sempre, pois não queira sobrecarregar o burro que já era velho.
Pouco depois eles passaram por um grupo de pessoas, que conversavam à beira da estrada. Assim que passaram, o velho ouviu alguém comentando:
- Lá vai aquele velho tolo. O menino que é jovem e forte, cheio de energia vai montado no burro e o velho, já fraco, vai andando. É mesmo um idiota.
O velho fingiu que não ouviu mas, assim que uma curva da estrada o escondeu da vista das pessoas, ele parou, tirou o menino de cima do burro e montou ele mesmo, fazendo o menino ir a pé. Algumas centenas de metros depois havia mais duas pessoas andando pela beira da estrada. O velho passou por eles e os cumprimentou, seguindo em frente. Logo ouviu um deles comentando:
- Olha só aquele velho safado. O menino coitadinho andando a pé e o safado refestelado em cima do burro. Que velho cruel. Pobre menino!
O velho não gostou nada daquilo mas de novo fingiu que não ouviu, e de novo, assim que passou a próxima curva, parou e chamou o menino, erguendo-o para cima do burro com ele. Alguns minutos depois passaram pela frente de uma pequena casa com varanda, onde um casal estava sentado tomando uma xícara de café antes de ir trabalhar. Assim que o velho passou ouviu a mulher dizendo:
- Olha só que velho malvado. Coitadinho do burro. Como se não bastasse carregar aquela carga toda, ainda tem que carregar o velho sem-vergonha e um menino forte e cheio de energia. É desumano. Pobre animal!
O velho já estava ficando muito zangado com aquilo. Mas, sem demonstrar ter ouvido, seguiu seu caminho. Assim que passou uma curva da estrada, parou o burro, desceu e fez o menino descer, seguindo os dois a pé ao lado do burro. Mais adiante, já perto da cidadezinha, encontraram com alguns trabalhadores com suas enxadas e foices, que seguiam para a roça. Assim que passaram por eles, o velho ouviu um deles comentar:
- Olha só que velho tolo. Aquele burro grande e forte só com aqueles dois cestos de carga e o tolo, já velho e fraco, andando a pé e obrigando o pobre menino a andar também. É um absurdo!
Então o velho ficou muito bravo. Arrancou seu aparelho de surdez e quando ia jogá-lo para bem longe, parou, pensou um pouco e guardou-o no bolso. Em seguida, agarrou o menino, colocou-o no lombo do burro e seguiu a pé pela estrada, puxando o burro, enquanto ia pensando:
- Eu era mais feliz quando era surdo, pois não tinha que ouvir as pessoas se metendo na minha vida, em vez de cuidar de suas próprias vidas. De hoje em diante vou voltar a viver como sempre fiz. Vou sempre fazer o que achar certo e nunca me preocupar com o que estão pensando. Vou guardar o aparelho, porque foi presente de um amigo, mas só vou usá-lo em casa, para ouvir o canto dos pássaros.

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